Marco Antonio de Queiroz (MAQ).
Fazer um depoimento a respeito do meu transplante de pâncreas não é fácil. Não é fácil porque, digamos, foi um transplante especial para mim e para a própria equipe da Beneficência Portuguesa de São Paulo. A expectativa que um diabético do tipo I desde os 3 anos de idade tem a respeito é enorme, levando-se em conta que eu já tinha 42 anos de diabetes na época da cirurgia, com perda renal que me levou em 1998 a fazer um transplante de rim devido a uma nefropatia diabética, passando por um total descontrole da doença, por mais cuidados e atenções que eu dava, com ajuda médica e familiar, às exigências da mesma.
Perdi a visão aos 21 anos em conseqüência de uma retinopatia, como sempre diabética, e a partir dessa perda ficou constatada a situação de vasculopatia em que eu já me encontrava em tal idade. Em outras palavras, a equipe está acostumada a fazer transplantes em pessoas que estejam mal da diabetes, que estejam já observando alguma perda de qualquer espécie, para que uma operação de tal vulto seja um risco válido e compensador. Mas meu caso estava no limite, pois já tinha os ditos 42 anos de diabetes e o mais velho a fazer tal cirurgia tinha seus 37, sendo o mais comum nos operados de 20 a 30 anos de doença. Os entupimentos de vasos e veias são mais acentuados em pessoas com mais tempo de diabetes, o que torna as coisas um pouco mais complicadas.
O transplante de pâncreas só é feito no diabetes do tipo I, pelo simples fato que nesse tipo de diabetes a falta de insulina é total e só um novo órgão pode acabar com esse problema. A melhora da qualidade de vida da gente é acentuada, mesmo que o transplante seja um sucesso parcial. Se não houver rejeição total do pâncreas e ele produzir insulina o sujeito, de cara, já se livra das injeções, da instabilidade glicêmica, no máximo em 40/60 dias, sendo que na maioria dos organismos isso é imediato. Não existe diabético que tenha se arrependido de fazer tal cirurgia, mesmo que tenha perdido o pâncreas posteriormente devido à rejeição do órgão. O fato de, por algum tempo, ter sabido e sentido como se vive sem a diabetes, faz alguns de nós enfrentar o re-transplante sem a mínima dúvida.
Achei esse depoimento muito interessante.
ResponderExcluirParabens pela iniciativa, Estudantes de Farmácia!